terça-feira, 26 de junho de 2012

Turismo

Turismo durante Rio+20

Heloisa Aruth Sturm e Marcelo Gomes
 
Se a Rio+20 não alcançou os resultados esperados quanto a medidas concretas em prol da sustentabilidade, ao menos mostrou a capacidade do Rio de Janeiro em receber os 110 mil visitantes que estiveram na cidade durante os dez dias da Conferência e geraram um rendimento extra de R$ 247 milhões ao setor turístico. "A cidade não precisa mais testar. Ela já está sendo testada e está passando no teste", avalia o presidente da Riotur, Pedro Guimarães. Redução na taxa de criminalidade, trânsito inferior às médias históricas e ampliação das operações de atendimento ao turista foram alguns dos saldos positivos deixados pela Conferência para a cidade.

Embora os quase 1,2 mil deslocamentos de comitivas e o aumento do fluxo de veículos fretados, além das diversas manifestações, tenham provocado congestionamento em alguns pontos, a cidade registrou trânsito abaixo da média histórica do município, com redução de até 27% do tempo de deslocamento em alguns locais. Resultado não só de estratégias implementadas pela CET-Rio, mas também da adoção de ponto facultativo nos três últimos dias da Conferência.

Houve pontos positivos também na área de sustentabilidade, especialmente em uso de biocombustíveis e gestão de resíduos. Dos 380 ônibus fretados em circulação, 31 deles (8%) funcionaram com combustíveis alternativos. A Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) e as cooperativas de catadores realizaram a coleta seletiva de quase um terço das 144 toneladas de lixo recolhidas nos eventos oficiais e paralelos durante os dez dias da Conferência - isso numa cidade que recicla menos de 1% de todo o seu lixo produzido.

As regiões onde ocorreram atividades ligadas à Rio+20 registraram quedas bruscas nas ocorrências de homicídio doloso (quando há intenção de matar), roubos de veículos e roubos de rua durante o evento em comparação ao mesmo período de 2011. No caso de homicídio, houve uma redução de até 80% na comparação entre os dois períodos. A área de monitoramento diário das estatísticas englobou 18 delegacias da cidade na região central, na zona sul, no aeroporto internacional e nos bairros da zona oeste onde houve grande circulação de delegações. A principal causa para essa queda, apontam especialistas, foi o superpoliciamento nessas áreas: cerca de 20 mil homens das Forças Armadas e das polícias Federal, Rodoviária Federal, Civil e Militar estavam envolvidos no esquema de segurança da conferência.
"Apesar de o Rio estar um canteiro de obras, a cidade respondeu muito bem", ressaltou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (Abih-RJ), Alfredo Lopes. A rede hoteleira, que obteve índice de ocupação de 95%, terá 10 mil novas vagas em 36 novos empreendimentos até os Jogos Olímpicos de 2016. A Abih estima que serão criados mais de 40 mil postos de trabalho diretos e indiretos até lá. "Muitos destes postos estão voltados à construção de hotéis, mas no futuro eles precisam ser qualificados para a operação do hotel, e esse é um desafio grande", avalia Lopes. A defasagem na capacitação no setor turístico foi sentida especialmente pelos estrangeiros. Embora tenha prestado atendimento a mais de 260 mil pessoas nos 16 postos de informação montados pela cidade, a Riotur pretende sanar um dos principais problemas enfrentados na Rio+20: a ausência de atendentes bilíngues.
Ainda neste ano será ampliado o programa municipal Rio Hospitaleiro, que em 2011 capacitou 3 mil pessoas. De acordo com Guimarães, a ideia é oferecer treinamento não só ao setor hoteleiro, mas também a garçons, taxistas, policiais, guardas municipais e garis. "Vamos focar especialmente nos atendentes de serviço público, que estão na ponta, para que a cidade esteja pronta para mostrar sua capacidade de receber bem e com qualidade".

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terça-feira, 12 de junho de 2012

História da Tijuca

Praça Saens Peña Hoje
Entender o nascimento deste tradicional e famoso bairro do Rio de Janeiro requer um retorno à época do descobrimento, quando os primeiro exploradores chegaram nesta região e ouviram dos índios a expressão “Tijuca” que na língua tupi significa charco, pântano ou alagadiço.  O nome, porém, se refere principalmente à região da Lagoa da Tijuca, que possui muitos mangues e água parada, e que está separada do atual bairro da Tijuca pelo Maciço da Tijuca, razão pela qual acabou por adquirir o nome dessa lagoa.

Logo após a vitória dos portugueses sobre os franceses no episódio “França Antártica”, em 1565, a região do atual bairro da Tijuca foi ocupada pelos padres jesuítas, que nela instalaram imensas fazendas dedicadas ao cultivo de cana-de-açúcar.

Por volta de 1583, os jesuítas montaram três engenhos de açúcar na região: o primeiro passou a se chamar Engenho Velho; o segundo, Engenho Novo, foi construído mais ao norte e o terceiro foi chamado de São Cristóvão.

Neste período, ao lado do Engenho Novo, foi construída uma capela em homenagem a São Francisco Xavier que está no mesmo local até hoje.

Em 1759, com a expulsão dos jesuítas do Brasil pelo governo de Marquês de Pombal, administrador e representante da coroa portuguesa no reinado de Dom José I, as fazendas foram vendidas a centenas de novos sitiantes.

A região passou a caracterizar-se pelas suas chácaras e, a partir do século XX, passou a ser um bairro tipicamente urbano.

Para se ter uma idéia da vastidão dessas terras, basta imaginar que nelas estão os bairros do Rio Comprido, Estácio, São Cristóvão, Maracanã, Tijuca, Vila Isabel, Andaraí, Engenho Novo, Méier e Benfica. Mais precisamente no Engenho Velho, passou a florescer então um bairro de chácaras, palacetes e vivendas, que pertenciam a nobres e estrangeiros abastados. Muitos desses nobres se estabeleceram e aumentaram suas fortunas com base na exploração da área.

Cafezais foram plantados ao extremo, chegando aponto de se devastar a Mata Atlântica, assuntando o Imperador Dom Pedro II, que no dia 11 de dezembro de 1861 determinou o replantio total da floresta, ato que culminou na criação da maior floresta urbana do mundo. A própria Imperatriz Leopoldina, dada a sua paixão por botânica passou a subir pelo antigo caminho da fazenda, depois chamado de Estrada Velha, estrada Nova, e hoje,  a conhecida Avenida Passos, para aproveitar a beleza e a tranqüilidade da floresta.

Neste paraíso dentro da cidade, foi criado o Parque Nacional da Tijuca. Mas enquanto a história se desenrolava no alto dos seus morros, a Tijuca crescia e virava um bairro tradicional.

Em 1859, os primeiros bondes da América do Sul trafegaram de forma experimental no bairro. Eram carros de tração animal da Companhia de Carris de Ferro da cidade à boa Vista, chamados de “carros da Tijuca” ou “maxabombas” Dez anos depois, começaram na cidade os serviços regulares de bondes puxados por burros, com a linha inicial indo do Centro ao Lago do Machado. A implementação dos bondes de tração animal popularizou os passeios à Tijuca.

A chegada do bom elétrico foi em 1892, numa linha que pertencia à Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico, e levava os passageiros do lago da Carioca até a Rua Dois de Dezembro. A população se assustou com a inovação, a ponto de ter que ser afixado nos espaldares dos bancos: “a corrente elétrica nenhum perigo oferece aos senhores passageiros”.

Vários pontos da Tijuca ganharam seus nomes graças ao bonde. “Muda” se chama assim por causa da parada que se fazia ali para que os animais cansados fossem trocados por outros, e se pudesse seguir caminho para o Alto da Boa Vista. A Usina, outro local famoso, tem esse nome porque naquele trecho se situava uma usina elétrica. Era lá que onde os bondes davam a volta para percorrer de novo o bairro.
Praça Saens Peña com vista para o Cinema Olinda
A Tijuca também fez história com os seus cinemas. Em 26 de outubro de 1907, era inaugurado na Rua Haddock Lobo, nº. 17, o primeiro cinema da região, o Pathé Cinematográfico. Até o final daquela década, mais nove cinemas foram abertos na Tijuca. Confirmava-se a fama do bairro de Broadway tupiniquim. Até mesmo o velho e feio largo da Fábrica Chitas, que passou a se chamar Praça Saens Penã em 1911, em homenagem ao presidente argentino, ficou mais bonito com a proliferação dos cinemas. O auge aconteceu na década de 1940, quando foi inaugurado nesta mesma praça o cinema Olinda, o maior do Brasil, com capacidade para 3.500 lugares.

Na década seguinte, a Tijuca veria a decadência dos cinemas e o apogeu do futebol. Em 1950 era aberto às margens do Rio Maracanã, o estádio Mário Filho, o maior do mundo. O futebol já recebia grandes clássicos no estádio do América Futebol Clube, na Rua Campos Sales, mas com a construção do gigantesco complexo esportivo, o bairro jamais seria o mesmo. Os domingos ficaram mais alegres e festivos. Com o regime militar, a Tijuca, que sempre teve seus moradores representantes do conservadorismo, talvez por causa da estreita relação com a nobreza imperial no século XIX, abrigou alguns capítulos negros da história do Brasil. Era lá, no 1º Batalhão da Polícia do Exército, que soldados eram treinados para a repressão. Mas a fase sombria da Tijuca passou.

Obras do Metrô na Praça Saens Peña
E hoje, em meio ao caótico murmurinho de suas ruas centrais e a tranqüilidade inabalável de suas florestas, passeiam os moradores sempre prontos a dar informações, contar casos, estórias, e fazer dia-a-dia a História da Tijuca e o Grupo Digitalmax veio fundar uma Unidade para também fazer parte desta história.